A História do MSX na Internet

A profissionalização do universo MSX.

    Voltei as aulas em marco de 1994 (sétimo período) todo animado. Agora precisávamos dar uma certa estrutura ao nosso microcosmo dentro da Internet. Mandei uma copia para o Lauro Faria, SysOp do BDI BBS, coordenador da área Rio da FidoNet e autor do MSX Guide (um boletim anual contendo muita informação sobre MSX - não e mais editado), e ele me mandou um e-mail com varias sugestões para tornar a lista mais fácil de ler, com mais dados e mais profissional, a saber:
   * Colocar, alem do nome e e-mail, qual a versão do MSX.
    * Separar por países.
    * Adicionar endereços de sites FTP, WWW, etc.
    * Colocar dados sobre CP/M também.
    * Incluir uma introdução.
    * Reservar espaço para o nome do grupo de usuários a que faz parte.
    * Adicionar uma historia da lista.
    * Colocar o total de inscritos.
    * E outras coisas...

    Aceitei as dicas e mexi na lista. Deu muito trabalho, mas ela ganhou o formato atual. O Lauro ofereceu-se para colocar um reply automático no seu BBS. Logo, você enviava um e-mail para msxlist@bdi.ax.apc.org  (não adianta fazer isso hoje, esse e-mail não existe mais) e depois de um tempo você recebia uma mensagem, contendo a lista. Tentamos enviar a lista pela FidoNet, mas acho que não teve muitos frutos, afinal eu não tinha modem na época. Como a gente não tinha uma lista de discussão, então as novidades eu mesmo acrescentava no fim da minha lista. Todo mundo pegava uma copia, logo era o melhor meio de divulgar informação. Tentamos organizar um IRC-encontro, mas justamente naquele dia a rede da UFRJ saiu do ar.

    E foi assim ate o final de maio de 1994. Aquele mês foi marcante para nos... Havia um finlandês (Markus Valtokari) que queria abrir um "espelho" da rede CP/M do SimTel em um site na Finlândia (a Funet). Só que ele queria abrir um diretório de MSX também. Isso para a gente era muito importante, já que não tínhamos onde depositar software para que os outros pudessem pegar e usar. Ele entrou em contato conosco, e nos (eu e alguns caras da Holanda) demos o maior apoio. Então, no meio de maio de 94, foi aberto o primeiro de muitas outras áreas disponíveis para os MSXzeiros na Internet: ftp://nic.funet.fi/pub/MSX/. O moderador era o próprio Markus, e fui o primeiro cara no mundo a fazer uploads para lá (tai um motivo de orgulho!). Ele criou alguns diretórios (seguindo a orientação do pessoal) e foi colocando os arquivos onde a gente indicava.

    Foi um bom serviço o dele... Mas que durou poucos meses. Acontece que ele não tinha tempo para gerenciar o diretório de CP/M, quanto mais dar atenção para o de MSX! O próprio Markus me ofereceu o lugar de FTPmaster, mas a distancia era continental, e meu tempo era pouco. Depois de um tempo o site ficou largado, ate o Roderik Muit (roderik@ripe.net) assumir o lugar do Markus e manter organizado a bagunça generalizada em que se encontrava o nosso primeiro FTP site. Posteriormente o Tristan Zondag (omegamsx@noord.bart.nl) assumiu o posto e trouxe muitas novidades, como muitas revistas em disquete (Compile DiskStation, Dragon Disk, Sunrise PictureDisk, etc.), jogos novos, demos, etc.

    No fim desse mesmo mês, recebi uma mensagem do Wiebe (wiebe@stack.nl). Li e quase não acreditei! Era uma solicitação para eu me cadastrar numa lista de discussão (majordomo@stack.nl) sobre MSX! Eu quase cai duro, isso era tudo que nos procuravamos ha tempos. Cadastrei-me logo na lista e a minha primeira mensagem foi felicitando aos já cadastrados, por fazerem parte daquele que foi mais um grande passo para criar uma "comunidade" MSXzeira. E nessa lista o pessoal discutiu nos últimos anos desde os assuntos mais prosaicos, como instalar um segundo disk-drive num micro da Philips, ate as loucuras mais inimagináveis, como processamento paralelo usando um cluster de 4 ou 8 MSX 1 (afinal, lá o MSX 1 e obsoleto ha mais de 15 anos).

    Trocamos muitas idéias, formando um canal de comunicação Brasil-Holanda, que veio a topar com os BBS. O Fernando Carneiro, autor do MSX-OFFLINE, criou um gerenciador de BBS (o que ele usa para manter o FireHawk BBS) que funciona sobre um MSX 2 com dois drives de 5 1/4", mapper e Megaram Disk (eu já vi o FH funcionando, afinal, o Fernando era o meu "técnico de manutenção de plantão"). Posteriormente, o Fernando fez uma conexão experimental durante um tempo com o Hack-Track BBS, fazendo troca de pacotes internacionalmente. Só que o modem do Fernando era um famoso TM-2 da Gradiente, com 300 bps ou 1200/75 bps. Logo, no máximo 1200 bps para trocar os pacotes... E pensar que lá e relativamente fácil encontrar MSXs ligados a modems externos via interfaces seriais, com ate 19200 bps. E na FH BBS havia uma conferencia chamada `MSX NET'.

    As novidades das feiras de Tilburg, Zandvoort (fora os encontros em Barcelona, Sevilha, Toquio, Lyon, Alemanha, Inglaterra, etc.) e anúncios de software e hardware, todos eles passaram pela lista internacional. Exemplos? Moonsound, GFX9000, interfaces seriais rápidas, IDE e SCSI (como a Sunrise ATA-IDE, a Novaxis e a Mega-SCSI), Pumpkin Adventure 2 e 3, Akin, Blade Lords, Magnar, Sunrise Magazine, Pentaro Oddysey, Sonyc, Puddle Land, demos, etc. Sempre tinha um usuário bacana que pensava em nos, MSXzeiros de fora da Europa e escrevia um texto (em inglês) para contar as novidades da feira ao pessoal da lista. Eu, especialmente banquei o "chato" muitas vezes, sempre pedindo informações sobre as feiras. Ficávamos impressionados com a produção de soft e hard para MSX na Europa, principalmente na Holanda. As redes de BBS baseados em MSX já eram grandes ajudas, mas graças a Internet, os grupos de outros países, como Espanha, Itália, Inglaterra, etc., se reanimaram.

    Com o tempo, entraram alguns japoneses e coreanos na lista. Descobrimos que na Coréia do Sul o MSX ainda e um sucesso de publico, e no Japão a coisa não estava tão feia assim como falou-me aquele brasileiro, funcionário da ASCII Corp., um muçulmano que apoiava o Iraque na Guerra do Golfo. Pelo contrario, havia muito soft novo de MSX sendo distribuído pelo sistema Takeru, a MSX Fan continuava sendo publicada, muitos grupos surgiam... A MSX Magazine parou de ser publicada em 1995, mas a MSX Fan seguiu ate 1999.

    E os japoneses não se contiveram, e trataram de sondar a Panasonic, a ASCII e outras empresas para saber por que tudo parou. Será que havia outro projeto a ser desenvolvido? Na verdade, o motivo era porque a linha de montagem do MSX Turbo-R estava sendo usada para fabricar o videogame 3DO. A Panasonic japonesa dizia que quando transferisse a fabricação para outra unidade, eles voltariam a produzir o Turbo-R. Mas ate agora, nada. Acho pessoalmente que o 3DO foi um fracasso por causa do "mau olhado" que todos os MSXzeiros do mundo todo jogaram nele... Ora, pararam com o MSX para fabricar o 3DO! Isso para nos era uma heresia. Não ha projetos de nenhuma empresa (Sony, Panasonic ou Sanyo) para um MSX 3 e pelo visto, nada que possamos fazer quanto a eles. E a ASCII? Ate 1999, nada. Depois... Bem, depois eu conto.

    Mas para o MSXzeiro brasileiro que já enfrentou o descaso de Gradiente e Sharp, agüenta qualquer noticia ruim. E a lista? Já tinha muita gente dentro, para mais de 200 pessoas. Tudo bem feitinho, dividido por países, etc., tarefa que me dava um trabalho imenso. Um fato relevante foi a entrada do pessoal das ex-republicas soviéticas na lista (Russia e Estônia, principalmente). Muitos ainda tinham no seu e-mail a extensão .su, de União Soviética. Lembro-me de uma nota na seção de noticias da MSX Micro (no. 7, se não me engano) que contava que a Yamaha vendeu milhares de MSX para a União Soviética informatizar as suas escolas. Dai saiu uma nova geração de micreiros, que conheceram o MSX nas escolas, em salas de aula. Inclusive os MSX deles eram interligados em rede, por um sistema cliente-servidor: O computador do professor era o MSX servidor, e os outros, os clientes. Um sistema bem primário de redes, mas funcional.

    Os russos criaram alguns softwares, como um excelente debugger para programas Assembly e um conjunto de editores de texto, a serie "Tor" (cheguei a usar o Xtor para escrever a primeira versão dessas mal-tracadas linhas). Curioso lembrar que o autor, Leonid Baraz e um russo que hoje trabalha na Intel. E, parece que ele agora foi contratado pelo Império, depois de ser da Rebelião.

    Posteriormente tivemos contato com usuários como Egor Voznessensky, o grupo de usuários Eternal, entre outros. O Egor, em particular, tem um senso de humor excêntrico ("Não deu para finalizar o projeto por que eu estava estirado no chão da minha dacha - casa - banhado em cerveja") e muita habilidade com hardware e software. Alem de projetos como interface IDE, placa aceleradora com Z180 e adaptador para monitores SVGA, ele fez um sistema operacional (MISIX) e vários utilitários, como um compactador (PR) e ferramentas para programação Assembly (ZSID, por exemplo). Os projetos de hardware desenvolvidos por ele e pelo seu "comparsa", Max Vlasov, podem ser encontrados na homepage da Novatec, 'localizável' nos melhores sistemas de pesquisa da praça.

    O segundo FTP site surgiu na ex-Uniao Soviética. Um usuário (Oleg Titov) colocou o próprio micro domestico funcionando em uma linha telefônica direta 24 hs por dia (a ligação era por conta do governo), instalou Unix (o bom e velho 386BSD), configurou o servidor de FTP e criou um FTP site. Nesse você tinha a liberdade de criar diretórios e acessar via FSP também. Um colecionador de jogos (Hans Guilt) mandou para lá (ftp://riaph.irkutsk.su) toda a sua coleção de jogos compactados (mais de 4Mb, o que e um bocado de coisa em termos de MSX), com vários daqueles joguinhos que fizeram a nossa alegria ha alguns anos atras: Knightmare, Elevator Action, Lode Runner, Antarctic Adventure, Zanac 1 e 2, Cabbage Patch Kids, etc. Sem contar algumas raridades, como o De Grotten Van Oberon (um jogo alemão onde você pilota um disco voador dentro de cavernas) e outros que eu nunca vi. Mas no arquivo do Hans não consegui encontrar nenhum jogo espanhol (Army Moves, Freddy Hardest, Paris-Dakar, etc.), convertido dos Spectrum. Será preconceito?



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Ufa!
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